Geórgia. Sucesso no futebol une cidadãos mas não esconde divisões políticas

por RTP
Reuters

Na última quarta-feira, a Geórgia mostrou que para ter sucesso não é preciso ter nomes especiais mas sim um coletivo forte e resiliente. Em Gelsenkirchen, na Alemanha, a equipa com o menor ranking do Euro2024 derrotou Portugal na fase de grupos, conseguindo alcançar os oitavos de final. Na principal praça de Tbilisi, os adeptos festejaram uma das maiores vitórias desportivas de sempre do país. No entanto, as divisões políticas geradas pela lei dos “agentes estrangeiros” e por supostas aproximações a Vladimir Putin e ao Kremlin ainda estão muito vivas na memória coletiva georgiana.

Há dois dias, a Praça da Liberdade de Tbilisi juntou-se para ver a vitória da Geórgia sobre Portugal no Euro2024. Adeptos festejaram um grande triunfo e mostraram união. No entanto, há quatro meses, a mesma Praça da Liberdade também estava cheia mas de manifestantes, não de adeptos. A polémica lei dos “agentes estrangeiros” levava a manifestações contra o que muitos consideravam ser uma ingerência clara de Vladimir Putin e do Kremlin na Geórgia.

Na última terça-feira, depois do 2-0 sobre o campeão europeu de 2016, os políticos georgianos foram perentórios em elogiar a exibição dos jogadores treinados por Willy Sagnol.

“Os rapazes deram-nos um milagre”, disse Irakli Kobakhidze, primeiro-ministro, muitas vezes acusado pelos Estados Unidos de ser uma marioneta do Kremlin.

“Isto significa que onde existe fé, propósito, dedicação altruísta e espírito de vitória, há triunfo!”, exaltou Salome Zourabichvili, presidente da Geórgia e com uma posição marcadamente europeísta.

De acordo com o Guardian, apesar do ambiente de festa e júbilo no país, os problemas políticos continuam a estar presentes. O Euro2024 foi palco disso. Na primeira partida que realizou em fases finais de Europeus, os fãs da Geórgia nas bancadas criticaram e insultaram Vladimir Putin. Depois do jogo de quarta-feira, o feito da equipa de futebol está a ser usado por todas as fações políticas para reclamar uma nova onda de patriotismo.

No entanto, a lei dos “agentes estrangeiros” mantém o debate aceso. Uma medida que quer obrigar organizações da sociedade civil e de meios de comunicação social que recebem pelo menos 20 por cento de financiamento estrangeiro a serem registadas como “organizações que servem interesses de um poder estrangeiro”.

Agora heróis nacionais, os jogadores da seleção da Geórgia não se mostraram indiferentes aos protestos em todo o país.

Jaba Kankava, capitão da seleção, e Kvicha Kvaratskhelia, nome maior do futebol da Geórgia, publicaram nas redes sociais mensagens de apoio aos manifestantes e o jogador do Nápoles, Kvaratskhelia, mostrou querer uma Geórgia europeísta.

“O caminho da Geórgia é a Europa. O caminho europeu une-nos. Para a frente Europa. Paz para a Geórgia”, afirmou o jogador.

Um antigo opositor do Partido Sonho da Geórgia, que está no poder, elogiou os jogadores pela visão ocidentalizada que têm para o país.

“Muitos dos jogadores tornaram claras as suas visões durante os protestos que foram reprimidos com violência por parte do partido pró-Rússia. Mesmo depois da histórica vitória sobre Portugal, os jogadores cantaram uma música de protesto que se tornou num símbolo em várias manifestações. Não há dúvidas que os corajosos jogadores da Geórgia partilham do sentimento público e veem o futuro da Geórgia na Europa em vez de ser um vassalo da Rússia”, declarou Giorgi Kandelaki, que agora trabalha numa ONG.

Apesar das demonstrações dos jogadores, o partido que está no poder tenta monopolizar o feito no futebol e tornar-se protagonista pelo que aconteceu na fase de grupos na Alemanha.
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